Ilusao de optica, by Rob Gonsalves |
Yure Cézar de Moura
Almeida
(Filósofo)
O fato de a
filosofia dar diferentes respostas à mesma pergunta não indica
falta de método ou de seriedade. A verdade não pode ser encontrada
da noite para o dia. A diversidade filosófica é um reflexo natural
da tentativa de encontrar a verdade, uma manifestação de
progressão, de autodepuração. Com novos dados e novas reflexões,
a filosofia se limpa do que está errado, mas não se torna imune a
contrair novas impurezas. Essa diversidade é necessária para que os
“bons” resultados eliminem os “maus”.
Para Hegel, a
figura da verdade (o conceito) só tem existência na ciência.
Para Hegel, a
filosofia não deve tentar ser edificante. Se bem que ela acaba sendo
de qualquer forma. Afinal, se não edificasse, não seria saber.
A ciência
precisa ser universalmente inteligível. Todos deveriam entender. Do
contrário, ela fica parecendo um tipo de culto fechado aos
não-iniciados.
Se ficarmos só repetindo o que já foi dito, não iremos além do começo da investigação.
Para Hegel, tudo
é igual no absoluto. É igual. Não parece igual, mas é igual.
Quando um
filósofo fala contra o formalismo, acaba criando um novo formalismo.
Um sujeito sem
predicados é desconhecido. Só os predicados dizem o que é um
sujeito.
Todos os
princípios, ao se pretenderem basilares e universais, se expõem ao
erro. É mais fácil criticar princípios do que conclusões.
O objeto da
Fenomenologia do Espírito é o nascimento da ciência.
O caminho para
uma ciência superior passa pela busca de conhecimento em si próprio.
O conhecimento
tido por novidade ontem é banal hoje, a ponto de até crianças
pequenas saberem. Imagino que tenha sido uma descoberta e tanto
quando perceberam que água conduz eletricidade. Mas hoje, todo o
mundo sabe disso. Eu, por exemplo, aprendi isso no Pokémon.
Cada momento da
ascensão do saber é necessário. Não se pode pular etapas. Não se
pode ensinar multiplicação sem ensinar adição.
Se deve deter-se
em cada etapa pelo tempo que for necessário.
Algo bem
conhecido pode não ser reconhecido. Quando algo é muito óbvio e
natural, tende a passar despercibido. Além do mais, é fácil errar
quando se assume que se conhece algo muito bem, só porque convive
com esse algo, sem nunca tê-lo estudado a fundo.
Não se deve
colocar como princípio de raciocínio algo que não se conhece bem,
só porque isso é algo com o que se está acostumado. No Brasil,
quase todos têm fé e quase todos colocam Deus como base de suas
vidas. Mas quem é Deus?
É possível
saber falsamente. Você sabe, mas seu saber é falso. Aprendeu uma
mentira. Seu saber só é verdadeiro quando ele está em harmonia com
o que é real.
O dogmatismo, a
tendência filosófica de sustentar que existem verdades imutáveis,
só funciona para certos saberes. “Todo o solteiro é um
não-casado”, isso nunca vai mudar. Mas existem conhecimentos que
se renovam. Nesses, não é possível afirmar uma verdade, como se
pode fazer na geometria.
Mesmo
informações óbvias precisam ser pesquisadas ou testadas, porque
ninguém nasce sabendo algo só porque é óbvio.
Uma verdade não
necessariamente é óbvia.
Conhecer algo
sem experimentar ou ver a demonstração é conhecer só por fora.
Um teorema é
tido por verdadeiro por seus resultados.
A filosofia não
deve aspirar ser como a matemática, porque a matemática oferece
informações quantitativas. Ela mesma não pode interpretar esses
dados, somente chegar a eles e os expor. Alguém escreveu (dizem que
foi o Aristóteles) que a matemática se preocupa com quantidade e a
filosofia com qualidade. Isso não quer dizer que a matemática é
uma ciência de segunda classe, só que a filosofia nunca poderá ser
como a matemática porque cada conhecimento está preocupado com
objetos diferentes. Estando preocupadas com objetos diferentes, é
natural que tenha métodos diferentes.
A matemática sozinha é superficial. Aliada a outros saberes, como a física e a química, é que ela mostra seu potencial.
Hegel diz que as
pessoas de seu tempo consideravam o “aparato científico
matemático” antiquado. E, no entanto, esse aparato subsiste até
hoje. Afinal, ele funciona.
Se algum dia
trabalharmos sem matemática, isso não implica trabalhar sem
critério. Não se faz ciência na base do “sentimento”.
É típico do
babaca aceitar o que não entende, quando proferido por alguém de
autoridade.
O mesmo é
pensar e ser.
Tem gente que tem vergonha de aprender.
Se a filosofia
não anda é porque muitos filósofos são presunçosos.
A presunção a
que Hegel se refere é a de tomar como princípio coisas estudadas às
pressas e chegar ao cúmulo de tomá-las como verdades com as quais
se pode condenar alguém.
Para Hegel, nem
todos podem se dedicar à filosofia, mas somente aqueles que têm
interesse em obter conhecimento claro sobre algo. Muitos, em sua
época, aspiravam à filosofia como meio de obter fama e dinheiro.
Além disso, se pregava que a razão natural bastava pra praticar
filosofia, de forma que leigos se achavam aptos a ser juízes de
filosofia.
Há quem pense
que não é preciso estudar pra praticar filosofia.
Filosofar “com
o coração” nos leva a dizer o que todo o mundo já sabe ou a
dizer coisas que supomos estarem latentes no coração dos outros.
Esse filosofar
com o coração é presunçoso ao extremo: “é verdade porque sinto
que é.”
Quando a
filosofia conclui algo distante do senso comum, a conclusão é tida
por loucura, mesmo que esteja certa. Quando diz algo de acordo com o
senso comum é tida por simples repetição do óbvio. Esses são os
preconceitos das pessoas que julgam a filosofia sem conhecê-la.
Pensar com o
sentimento, sem a razão, é tentar pensar como bicho.
Pensar
verdadeiramente é conceituar precisamente.
Hegel critica a
posição de Kant, segundo a qual não é possível conhecer as
coisas como realmente são, mas somente como elas são vistas,
ouvidas ou sentidas.
Fonte: Internet. |
Às vezes se
erra menos quando não se tem medo de errar.
O medo do erro
impede uma pessoa de confiar até em si mesmo. A ciência trabalha
melhor sem esse cuidado excessivo. Deve tentar ser o mais certa
possível e se errar, tudo bem, ela conserta.
Hegel se
pergunta se o medo de errar já não é, em si, um erro.
O medo de errar
é um medo da verdade. “Se as coisas forem de outro modo, sofrerei
as consequências.” É mais um receio de que a verdade lhe caia
como um tijolo na cabeça.
Não assuma que
o outro sempre sabe do que você está falando. Às vezes é preciso
explicar palavras “geralmente” conhecidas.
Duvidar é não
ter certeza da verdade. Desespero é ter certeza de que não há
verdade ou que ela nunca poderá ser encontrada.
Confiar em si
mesmo é mais seguro do que confiar em uma autoridade se a autoridade
não satisfaz. Imagino que isso seja porque você pode ao menos
entender os próprios pensamentos. Já no caso da autoridade, nem
sempre se pode entendê-la de todo; não pensamos com a cabeça dela.
Porém, rejeitar a autoridade não é o mesmo que rejeitar o erro. É
bem provável que tanto você quanto a autoridade estejam errados.
Afinal, rejeitar a autoridade pra confiar em si mesmo é atribuir
autoridade a si mesmo. Não é tão diferente assim, pondo as coisas
dessa forma.
A arte do cético
é a de duvidar, procurar erros de raciocínio e criticar. Esse
caminho é mais seguro do que simplesmente crer em si mesmo ou em
outra pessoa.
O conhecimento
termina quando o conceito corresponde ao objeto, isto é, quando a
ideia que fazemos de algo está completamente correta e não há nada
mais pra saber sobre aquilo. Quando sabemos tudo sobre algo, não há
necessidade de buscar mais conhecimento naquilo. Difícil é saber
quando podemos parar e dizer “nada mais há que ser feito”.
O objeto do
livro é o saber em si. Quer responder o que Platão não conseguiu.
O que eu sei não
necessariamente é verdade. Eu posso ter aprendido uma mentira.
Não há
problema algum em anotar verdades. Elas não serão menos reais por
terem sido escritas.
O aqui anda
conosco. Seu conteúdo muda dependendo de onde estamos.
Existem verdades que só são válidas pra mim.
O tempo pode ser
infinitamente dividido.
Igualmente o
espaço pode ser dividido o quanto se queira.
É preciso
“visar” um aqui ou um agora. Isso quer dizer fazer um recorte do
eterno ou do infinito pra que eu possa dizer algo. Quando eu falo
“agora”, tenho que especificar se esse agora é esta hora, este
dia, este ano, este minuto, por exemplo. O mesmo com o “aqui”,
que pode ser este país, este estado, este mundo, este bairro. Mas
essas limitações não são absolutas, embora necessárias, porque
tanto o aqui quanto o agora podem ser divididos de novo e de novo.
Se o visado não
é absoluto, não deve ser encarado como verdade, embora seja
necessário. Aqui ele resolve o problema do Parmênides: há
movimento entre agora e aqui (que são coisas da nossa cabeça), mas
se tomarmos tempo e espaço em sentido absoluto, não há movimento,
pois haveria somente um momento (o eterno) e um espaço (o infinito).
Se algo não
pode ser dito, é porque não pode ser pensado. Se algo não pode ser
pensado, não existe, diz Hegel com Parmênides.
A certeza
sensível não é universal, porque “visa” um isto. Ora, mas se a
certeza universal só é universal se visa o eterno e o infinito,
então eu viro cético.
Perceber é
sentir características.
Peço desculpas
a quem espera uma análise profunda, mas é que esse livro é muito
mal escrito e parece que o autor não tá nem aí pro meu
entendimento ou falta dele.
Leis gerais são superficiais.
Uma coisa não é
seu agir. Eu posso agir de outra forma e continuar sendo o que sou.
Para Hegel, ser
é ação, enquanto conceito é essência necessária. Se bem que,
nesse sentido, esse “ser” de Hegel é um “estar”, uma
condição temporária.
Olha, esse livro
não faz sentido. Se quer ver o lado bom de Hegel, leia os
Princípios, mas não a Fenomenologia.
Não sei se ele
faz metafísica séria ou apologética furada.
O estado natural
da consciência é a vida.
O senhor precisa
de algo, seu escravo vai lá e pega. O escravo é um meio sem o qual
o senhor não pode pegar o que quer.
Para Hegel, o
escravo, no exercício de sua escravidão cabal, é independente.
Certo. Ao menos este livro não é revoltante como o do Rousseau.
Hegel diz que o
temor do senhor é o princípio da sabedoria. Ele está aqui fazendo
um paralelo bíblico (Provérbios 1:7). O problema é que isso dá a
impressão de que o temor a qualquer senhor dá sabedoria. Por
senhor, podemos entender empregador, governante e outros cargos de
respeito acima de nós. É um convite ao trabalho conformado, além
de colocar todos os senhores do mundo em igualdade com o senhor do
universo, ambas coisas erradas. Sutilmente se utilizando da Bíblia
Sagrada pra justificar um troço desses, que desonesto.
Hegel argumenta
que o temor aos senhores é o início da sabedoria porque é pelo
trabalho que a consciência conhece a si mesma. Mas precisa ser esse
trabalho e precisa ele ser feito com temor, como servimos a Deus? É
diferente. Lembrando que trabalho não precisa ser o assalariado,
como nós fazemos, mas qualquer atitude de transformação do
ambiente pode ser considerada trabalho. Então não há necessidade
de senhor pra haver trabalho. Assim, a sentença ficaria melhor como
“o trabalho é o início da sabedoria”, e só em nível secular.
Falando da forma como ele fala, parece até que eu tenho que me
subjugar totalmente ao meu empregador.
Para Hegel, o
trabalho tem dois momentos: medo e formação. O empregado aprende
pelo medo, ele diz.
“Se a
consciência se formar sem esse medo absoluto e primordial, então
será apenas um sentido próprio vazio […].” Não dá pra
aprender pelo trabalho sem medo, ele diz. Se eu não estivesse
determinado a terminar meu curso autoimposto de história da
filosofia, eu pularia esse livro e leria o do Marx, que é muito mais
estilo.
Para Hegel, o
estoicismo não poderia ter aparecido antes do tempo em que apareceu,
pois precisava de um ambiente multicultural.
Ele diz que o
estoicismo é muito geral ao pregar o bem e a verdade estão no agir
racional. Para Hegel, isso é muito vago. Não que seja mentira, mas
não é específico o suficiente.
Para Hegel, o
ceticismo é o passo seguinte ao estoicismo.
A consciência é
infeliz quando em contradição consigo própria.
Não basta
trabalhar e desejar o bem trabalhado. É preciso entendê-lo.
Entender o que desejo e para quê trabalho.
Algo só existe
se chegar à consciência, diz Hegel. Nossa consciência confere ser
às coisas. Se bem que eu não sei mais o que ele tá dizendo, posso
estar errado aqui.
Se algo deve ser e é, então é verdade. Se algo deve ser, mas ainda não é, então ainda não é verdade.
A razão é
capaz de generalizações bem seguras. Se eu jogo uma pedra para
cima, ela cairá. Eu não preciso fazer isso com todas as pedras pra
chegar a essa conclusão. David diz que essas generalizações são
hábito e que não são sempre certas, mesmo que sejam seguras. Algum
dia ou em algum lugar, pode ser que eu jogue uma pedra pra cima e ela
não caia, mesmo que seja no espaço sideral, no futuro distante.
Generalizações
falham com tanta frequência que é possível generalizar que
generalizações são falhas.
Provável não é
o mesmo que verdadeiro. Se a chance não é 100%, não tome por
garantido, mesmo que seja seguro.
A abstração
nos permite separar elementos de suas condições acidentais.
Ironicamente, isso permite maiores generalizações também.
Algo contido em
algo não necessariamente está preso.
Regras
superficiais encontram exceções facilmente.
Fonte: Internet. |
Dois conceitos
relacionados nem sempre são interdependentes, mesmo que o conceito A
dependa de B. O conceito B, o qual é necessário ao A, pode muito
bem subsistir sozinho.
Dois conceitos
relacionados podem ser independentes.
Alguém
escreveu: “o exterior é expressão do interior.” Será que isso
é sempre válido?
O problema das
ciências ocultas superficiais, como a astrologia e a quiromancia, é
relacionar coisas que não se podem relacionar: personalidade com
influência constelar, linhas da mão com tempo de vida.
A mão é
relacionada com o destino porque é pela mão, ou por equivalente,
que agimos no mundo. Pegamos, fazemos, tocamos, transformamos. O ser
humano, dizem, não teria chegado tão longe se não tivesse mãos
como as que tem. Não basta ter razão se faltam polegares.
As linhas de
expressão da mão (adquiridas pelo trabalho), o timbre da voz, a
caligrafia, essas coisas são manifestações externas do nosso
interior. Não é de admirar que se queira decifrar a personalidade
ou mesmo o destino de uma pessoa por esses sinais. Mas eles mostram
não que essas artes sejam seguras, e sim que o ser humano, bem como
seu destino, pode ser decifrado por suas ações, as exteriorizações
de seu interior.
Algo deve ser
explicado pela sua ação e não por sua aparência.
O espírito
(mente) é um extremo, o objeto externo é o outro extremo. O corpo é
o meio-termo. A mente interage com o mundo através do corpo.
Para Platão, o
fígado era o órgão responsável pela profecia. Tão interessante
quanto incorreto.
Há uma
tendência a fazer ligações apressadas entre ações e certas
partes do corpo. A profecia vem do fígado, a raiva vem da vesícula
biliar, o amor vem do coração, a concupiscência vem dos rins,
porque sentimos esses órgãos quando temos tal ou tal estado de
espírito. Isso é melhor explicado pela endocrinologia do que pelo
misticismo.
O corpo é
muitas vezes o sinal de algo mais profundo, do que ele próprio. O
corpo sozinho não significa muito. Suas características são
frequentemente moldadas pelas nossas próprias ações. Não se deve
analisar o corpo sozinho, mas também o uso que eu faço dele.
É realmente
possível pensar até ter dor de cabeça.
Um só sintoma não fecha diagnóstico.
Um fenômeno é
muitas vezes indiferente às leis que estipulamos sobre ele. Vemos o
céu nublado, ouvimos trovões e pensamos: “choverá.” E aí não
chove. Mas deveria ter chovido. Então mesmo quando temos certeza de
prever determinado fenômeno com base em causas presentes, essas leis
não são a natureza. Ela pode contrariar a lei. É verdade que
existem leis da natureza que são mais confiáveis que outras, mas,
ainda assim, as leis que fazemos não são a natureza de fato, o
fenômeno pode não ocorrer, mesmo que as condições lá estejam.
Ao dizer que uma
pessoa é de tal jeito por causa, por exemplo, de seu signo, você
está dizendo que a pessoa é uma data. A data de nascimento
determinou quem você é. Ela é que é importante pra conhecer você
e não suas ações, as quais já foram pré-determinadas pela data
de nascimento. Ora, mas isso é um grosseiro preconceito, além de
muito injusto. No final das contas, talvez até nossas leis da
natureza sejam preconceitos, ou “hábitos”, como queria Hume,
porque vemos um fenômeno se comportar sempre da mesma forma em
determinada condição e supomos que ele sempre se comportará dessa
forma se a condição for a mesma.
Não somos
nossos signos do zodíaco, nem somos qualquer detalhe de nosso corpo,
como fisionomia ou configuração hormonal. Não se pode analisar uma
pessoa lhe tomando somente um aspecto, especialmente se
desconsideramos suas ações. É preciso ver a pessoa no todo e como
ela age. Sem isso, não se pode compreendê-la totalmente.
É possível
justificar um preconceito com argumentos científicos e isso foi
feito muitas vezes na história. Mas não deixa de ser preconceito.
Para Hegel, a
natureza põe em segredo suas coisas mais sublimes e isso é
ilustrado pela proximidade entre o sistema reprodutor e o sistema
urinário. “A sublime geração deve ser íntima como a micção”,
ouve Hegel da natureza. Que sexy.
Que comparação:
permanecer na representação sem alcançar o juízo infinito, que é
a perfeição da vida que compreende a si própria, é como usar o
pênis só pra mijar. Eu não saquei. Mas se ele fizer mais alguma
relação entre filosofia e xixi, eu vou ter que dar uma pausa.
Quem aborrece a
ciência e a filosofia, isto é, quem rejeita a razão, se entrega ao
demônio e deve ir pro inferno, diz Hegel, com Goethe.
Não há meio-termo entre a vida e a morte.
Religiosos
fanáticos e governantes lunáticos humilham porque foram humilhados.
Querem ressarcimento pela dor que sofreram em algum momento. Ou é o
que Hegel diz.
Se todos agissem
somente segundo leis próprias, não haveria harmonia. É por isso
que existem leis maiores, estipuladas no contrato.
Quando se faz um
discurso sabendo que uma determinada palavra precisa ser ambígua pra
que o discurso funcione, a pessoa que faz o discurso não explica o
significado dela, fazendo o discurso como se todo o mundo já
soubesse.
Se alguém
perguntar o que a palavra significa, o discursante pode salvar sua
intenção respondendo “pergunte ao seu coração.”
Não é possível
agir sem um fim em mente. Pense no que você quer, antes de pensar em
como chegar lá.
A vitória de
quem você apoiou pode ser tida como uma vitória sua também, embora
isso seja impreciso. Com efeito, vários movimentos sociais apoiaram
a saída da Dilma, e no entanto não foram causa de sua saída.
Algo é “mau”
quando falha em ser bom.
Todos devem
falar a verdade se a souberem…. Mas como vou saber se o que sei é
verdade?
Seria melhor
dizer “cada pode dizer sua opinião”.
“Mentir” é
falar algo incorreto sabendo ser correto. Se você não sabia, então
não é mentir, mas só um equívoco.
Pra que serve o
amor? Qual é seu objetivo? Proporcionar bem ao amado, ao mesmo tempo
que a afasta o mal desse amado.
Não existe
“amor inativo”. Se é amor, é ativo.
Para amar
alguém, é preciso tratá-lo segundo o conhecimento do que é bom
pra aquela pessoa. O que é bom pra mim pode não ser pro outro.
Então, se eu faço ao amado o que é bom pra mim, mas não para esse
amado, eu estou amando de forma errada.
Sempre houve
leis, diz Hegel.
Nem tudo o que não se contradiz é justo. Existem coisas lógicas e injustas.
Não se pode
refletir sobre as leis e ainda assim cumpri-las. Quando se cumpre uma
lei, ela é cumprida como lei, isto é, como algo que se deve fazer
sem pensar o porquê. Mas se eu penso “por que essa lei existe?”,
já não a estou cumprindo como lei. No máximo, posso cumpri-la como
ordem. Leis não são leis pra mim se duvido delas.
Para Hegel, o
costume faz parte da lei de um local. Deve estar se referindo às
“leis não-escritas”. Isso faz sentido na medida em que a lei
escrita e o costume são harmônicos. Por exemplo: a disciplina
corporal infantil. Há uns poucos anos que isso é proibido, mas
ainda é costume de muitos pais bater em seus filhos com chinelos,
cintos, cipós, entre outros. Se o costume faz parte da lei local,
não deveria contradizê-la. Donde decorre que costume não é lei.
Se deveria ser, isso deixo em aberto.
Para Hegel, os
direitos do homem e os da mulher têm a natureza como base. Se na
época dele a mulher tinha que ficar em casa cuidando dos filhos
enquanto o homem trabalhava, era corrente que isso tinha explicação
natural: alguém tem que ficar com os filhos pro outro obter o
sustento, então fica com os filhos quem tem tetas pra alimentá-los.
Diz Hegel que a
lei humana é a explicação da divina. A divina é o sentido, a
humana é o específico. Como Hegel é protestante e, como tal, se
estriba tenazmente em Paulo (Romanos 13:1), é natural que ele
coloque a obediência a Deus abaixo da obediência ao governo,
especialmente porque ele tem para si que pode se salvar pela fé
somente. No máximo, identificará as duas leis, como se a lei divina
fosse uma metáfora e a lei humana fosse o sentido explícito.
Ninguém é
inocente, porque todos são responsáveis por suas ações enquanto
seres agentes. Animais e crianças também, na medida em que agem,
são responsáveis pelos seus atos, embora não respondam por eles.
Só minerais e vegetais são inocentes, porque eles nunca fazem nada.
Não
reconheceríamos nossos erros se eles não causassem sofrimento. É
preciso que algo ruim ocorra pra que o erro seja percebido e
assumido. Se nada de ruim acontecer, pensamos que acertamos.
Talvez eu
entendesse este livro melhor se eu tivesse lido a Doutrina da Ciência
antes. Hegel usa o termo “eu”, que é capital na filosofia do
autor da Doutrina.
Um sacerdócio
impostor se aproveita da estupidez dos fiéis para instaurar
superstições que lhe favorecem.
Um sacerdócio
impostor costuma ficar do lado de governantes corruptos por ser
formador de opinião, não muito diferentemente do que a mídia
tradicional faz.
Um sacerdócio
impostor e uma mídia golpista só podem fazer o que fazem porque o
povo é ignorante.
“Conceito” é um saber simples que sabe a si mesmo e ao seu contrário.
Para Hegel, se
algo não é concebido pela mente humana, esse algo não existe. Isso
não quer dizer que tudo o que eu penso seja real, mas que não pode
ser real se eu não posso pensar sobre isso. Para ele, nada que não
pode ser pensado pode ser real, sem implicar que tudo o que penso
seja real.
A fé
normalmente se baseia em testemunhos. No caso da fé cristã, por
exemplo, ela se baseia no testemunho escrito (a Bíblia Sagrada). Mas
esse testemunho tem sua efetividade condicionada a três fatores:
preservação dos textos, habilidade e honestidade dos copistas e
confiança na sua capacidade de compreensão. Se os textos não estão
bem preservados, se os copistas adulteraram o original ou se você
não entende bem o que está escrito, o testemunho está prejudicado
e a fé será alterada. Porém, a fé pode não depender de nada
disso. Adorar a Deus não é adorar a Bíblia ou adotá-la
literalmente. Já pra mim, a adoração não pode prescindir da
Bíblia Sagrada, mesmo que ela não seja adotada integralmente ou
literalmente.
Para Hegel, a fé
não precisa depender de texto, copista ou hermenêutica. Aliás,
Hegel diz que ela não depende de nada disso. Pergunto-me como a fé
começa, então, considerando que Hegel é protestante.
É estranho que
alguns ponham o agir virtuoso em alvos impossíveis.
Não basta
acabar com a mentira, se não se estabelecer a verdade. Se você
acaba com a mentira sem dizer a verdade, outra mentira pode se
seguir.
A constituição
humana está na medida certa enquanto é natural. Não apenas as
carências, mas também os excessos arruínam a pessoa.
A razão é o
meio mais seguro de dizer quando algo está em excesso ou em falta.
A pessoa precisa
ser útil, porque tudo é útil a ele.
Ajudar os outros
é ajudar a si mesmo. Seja prestativo.
Praticar jejum
não te liberta da necessidade de comer. Tanto que comer é a
primeira coisa que você faz quando o período do jejum acaba. A
abstenção não liberta dos prazeres naturais necessários.
Pensar na
utilidade das coisas não é reprovável, mesmo em questões de fé
ou sentimento.
Às vezes a
consciência faz coisas sem saber que elas lhe trarão felicidade ou
gozo. Nem sempre está certa das consequências, mesmo as boas, do
que ela faz. Nesse caso, ela pode muito bem ficar feliz sem saber. Aí
se lamenta. É feliz sem saber.
Na indignidade,
a felicidade é passageira e só pode ser dada de graça.
Ilustração de Duy Huynh. |
Me perdi.
É lícito ser
covarde se isso não vai contra os seus deveres como pessoa. Mas será
que um medo não só se qualifica como “covardia” se ele vai
contra esses deveres?
As feridas do
espírito curam sem deixar cicatriz. Isso quer dizer que o dano
causado, depois de reparado, pode não mostrar mais sinais de que
ocorreu, mas também quer dizer que a sequela deixada (o aprendizado
da má experiência) é interior.
Nietzsche não
foi o primeiro a dizer “Deus está morto”. A “morte de Deus”
já era algo discutido antes e Hegel faz referência a isso. É
importante lembrar que nem em Nietzsche e nem no que é mencionado
por Hegel, essa morte divina é literal. Não. Em Nietzsche, ela
representa o fim de critérios absolutos (como bondade, beleza,
preceitos religiosos e justiça) que antes guiavam a pessoa, porque o
avanço científico tornava, a seu ver, a crença no absoluto,
inclusive em Deus, totalmente desnecessária. Em Nietzsche, isso pode
até ser positivo, pois permite que o indivíduo, diante da falta de
sentido da existência, dê a essa existência o significado que
convier. Já para Hegel, “Deus morreu” é uma frase que não
enuncia nada de bom, é a fala de alguém desesperado e desiludido,
em profundo estado de dor (talvez da consciência infeliz). Hegel,
porém, não concorda com essa frase, embora faça menção a ela.
Afinal, Hegel era cristão.
Na verdade,
conforme Hegel progride em seu raciocínio, é possível ver
paralelos entre o “Deus morreu” da consciência infeliz e o “Deus
está morto” de Nietzsche. Ambos veem na falta de um Deus bom e
todo-poderoso um elemento desestabilizante. A diferença é que
Nietzsche vê nisso um estímulo à evolução e Hegel vê nessa
perigosa afirmação uma armadilha de profunda depressão. Algumas
pessoas simplesmente não conseguem viver bem sem fé, sem algo que
lhes dê alguma certeza de alguma coisa.
Só é possível
conhecer Deus refletindo naquilo que ele revela de si próprio.
Assim, embora
seja possível, pela razão, inferir que Deus existe, as exatas
características de Deus não estão ao alcance da simples razão. A
revelação é necessária. Nesse caso, imagino que Hegel se refira à
Bíblia Sagrada.
O ser humano,
antes de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis
2:17), era inocente. Nunca poderia ser culpado de seus atos, porque
não sabia que bem e mal existiam. Agora que sabe, ele é responsável
por seus atos. Isso me leva a me perguntar se Adão, antes de comer o
fruto proibido, podia fazer qualquer coisa que achasse prazerosa,
justa ou útil, mesmo que fosse má, uma vez que ninguém esperava
que ele agisse pelo bem. É interessante lembrar que, embora Adão
soubesse que bem e mal existiam, esse conhecimento de bem e mal
absolutos não cabia na natureza humana, que é limitada. É por isso
que, mesmo que saibamos que esses dois existem, frequentemente
confundimos um com o outro. Bem e mal, como conceitos absolutos,
deveriam ser um mistério reservado a Deus somente (Gênesis 3:22).
Para citar este
documento (ABNT/NBR 6023: 2002):
Almeida, Yure Cézar
de Moura: Anotações sobre a fenomenologia do espírito.
Práxis Jurídica, Ano IV, N.º 01, 05.03.2017 (ISSN 2359-3059).
Disponível em: <http://praxis-juridica.blogspot.com.br/2017/06/anotacoes-sobre-fenomenologia-do.html>. Acesso em:
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